Encontro na FGV discute sustentabilidade dos sistemas agroalimentares metropolitanos


Relato por Joaquim Moura
agriculturaurbana.org.br


Na manhã de 13 de agosto de 2013 realizou-se na cidade de São Paulo o Colóquio sobre Global Innoversity, organizado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas - GVces - em colaboração com a Universidade Estadual de Michigan, para apresentar a possíveis parceiros o projeto “Global Innoversity”, voltado para a promoção de inovações nos sistemas que abastecem e alimentam sete regiões metropolitanas ao redor do mundo, de modo a torná-los mais sustentáveis: Detroit, Joanesburgo, Hyderabad, Cingapura, São Paulo, Nairóbi e Holanda (esse país todo é menor que muitas metrópoles por aí, mas é um dos maiores e mais ricos exportadores de alimentos do mundo).

A proposta da Global Innoversity, de atuar como "acelerador de inovações", originou-se do projeto “TransForum”, realizado na Holanda entre 2004 e 2010; um caso bem sucedido de criação de um sistema replicável reunindo representantes dos quatro segmentos decisivos – empresarial, governamental, da sociedade civil e acadêmico – para promover inovações mais sustentáveis no sistema agroalimentar e de recursos associados (água, solo, energia) das regiões metropolitanas.

O que é a Agricultura Metropolitana?
É uma resposta inovadora aos problemas presentes no sistema alimentar metropolitano atual, que tira vantagem das características dos ambientes das megalópoles para oferecer uma ampla gama de soluções sustentáveis. Trata-se de uma visão pragmática por uma lógica agrícola nova e sustentável; uma lógica que co-cria novas conexões entre as áreas metropolitanas e a agricultura. Ela pode ser aplicada em várias escalas, desde o nível dos projetos individuais até o regional, incorporando processos agrícolas que vão além da produção, tais como a logística e o comércio, e propõe usar a agricultura para atender uma grande variedade de necessidades das populações urbanas. A conceituação, a metodologia e os projetos do TransForum – base original da Global Innoversity – podem ser melhor conhecidos aqui (em inglês).

O programa Global I
nnoversity está criando uma rede para interligar as “sete regiões metropolitanas parceiras” que irão implantar a mesma metodologia, princípios e diretrizes, todas eminentemente participativas e práticas, com base na aprendizagem-ação, na co-criação e na complementaridade, envolvendo parceiros dos quatro setores acima mencionados em projetos cuja sustentabilidade pode ser medida pelo modo como incluem as três dimensões “PPL” indispensáveis: “P” de planeta; “P” de pessoas; e “L” de lucratividade. (Em inglês, é "PPP", pois lucro é “Profity”).

Após o encerramento do projeto TransForum, em 2010, a Universidade Estadual de Michigan passou a protagonizar o processo internacionalmente, criando o programa Global Innoversity e implementando parcerias em regiões metropolitanas nos vários continentes.

O projeto apresentado pelos professores da Michigan State University e do TransForum certamente é uma iniciativa “de ponta”, reunindo as concepções e as ferramentas mais atuais e comprovadamente exitosas em processos de desenvolvimento endógeno – aqui aplicadas em imensos ambientes urbanos que concentram milhões de habitantes.

O fato de ter chamado a atenção da Fundação Getúlio Vargas, que se tornou o parceiro brasileiro na iniciativa do Global Innoversity, aumenta muito a chance de que o trabalho será implementado com seriedade e eficiência, e produzirá os frutos ambiciosos e indispensáveis que almeja.

Aliás, é muito importante que a FGV tenha aberto um Centro de Estudos em Sustentabilidade - o GVces.
Se seus técnicos e pesquisadores levarem a sério esse parâmetro da "sustentabilidade", como inevitavelmente irão, a própria instituição terá que rever muitos de seus conceitos e paradigmas...



O encontro

Havia cerca de 40 participantes no Colóquio, incluindo técnicos da FGV (inclusive do setor de agronegócio, atividade muito forte em São Paulo e no Brasil), de outros órgãos públicos e muitos representantes de iniciativas do Terceiro Setor, destacando-se Hans Dieter (projeto Cidades sem Fome) e Cláudia Visoni (grupo Hortelões Urbanos no Facebook) e integrantes de organizações ligadas à agricultura orgânica, à permacultura e à agroecologia.
Alguns desses militantes das várias vertentes da agricultura natural demonstraram algum desconforto ao saberem que o Global Innoversity inclui a agricultura convencional (industrializada e baseada em insumos químicos, mecânicos pesados e na adulteração genética dos alimentos) em seu “mix” de soluções agronômicas visando a sustentabilidade do sistema agroalimentar que nutre as áreas metropolitanas do mundo.
 Quanto a esse mal-estar, acredito que a incoerência é natural e passageira. Seria impossível eliminar a agricultura convencional do modelo que a realidade exige hoje, nem poderíamos esperar que a FGV e a Universidade de Michigan fossem adotar tal radicalismo agroecológico – pelo menos não tão cedo.
O mais importante é ver que nossas preocupações, já velhas de 40 anos, vão escapando do gueto dito “natureba” – ao qual fora condenado pela mídia nos anos 1980s – e vai adentrando a academia internacional e até uma entidade de prestígio merecido como a FGV.
Não nos preocupemos antes da hora, por que – a partir dos princípios básicos do Global Inoversity e do TransForum – se a busca da sustentabilidade for mesmo levada a sério, naturalmente os princípios da agroecologia se imporão, e reduzirão à sua mínima expressão os métodos produtivos que priorizam o “L” do lucro acima dos “Ps” do planeta e das pessoas.
Algumas dúvidas

Saí do Colóquio com algumas dúvidas. Os apresentadores do projeto falam das sete regiões administrativas parceiras sem aprofundar suficientemente alguns aspectos. Por exemplo, a maneira como o documento original distribuído (aqui a tradução em português) e as apresentações descrevem as “parcerias com as regiões metropolitanas” não esclarece alguns pontos:
  1. quem representa essas regiões metropolitanas nessas parcerias? apenas os atores (dos quatro setores) interessados em desenvolver a metodologia em seus territórios?, ou...
  2. existe a necessidade de formalizar algum convênio ou parceria com as prefeituras locais ou com algum órgão ou agência oficial que lide com as questões socioambientais nessas regiões?
  3. qual o número mínimo (ou porcentagem) de municípios que precisa ser atingido para caracterizar uma parceria com determinada região metropolitana?
  4. Em que ponto se encontra a organização das “Coalizões para a Inovação” locais nas outras seis regiões parceiras? Que atores as constituem? Como se organizaram? Já iniciaram quais atividades?
  5. Talvez também tenha faltado definir um cronograma relativo aos próximos passos, e talvez oferecer umas tarefas para quem sabe que “o tempo é o fator crítico”.
Por fim, espero que saibamos aproveitar essa oportunidade de avançar decisivamente na divulgação de processos mais sustentáveis de alimentar os habitantes metropolitanos – mesmo sabendo que, a longo prazo, grande parte dessa população precisará se reruralizar (como eu já fiz, aliás) para poder produzir agroecologicamente os alimentos capazes de curar os solos, as pessoas e as sociedades.
Sander Mager, diretor do projeto TransForum, na Holanda analisa as contribuições dos presentes Prof. Christopher Peterson, da Universidade Estadual de Michigan, faz sua apresentação sobre o projeto Global Innoversity.


Acima, Renato Orsato e Aron Belinky, da Fundação Getúlio Vargas, e o Prof. Christopher Peterson, da Michigan State University, expõem suas visões sobre o futuro dos sistemas agroalimentares urbanos.
Abaixo, na parte da tarde os apresentadores prosseguiram a conversa com participantes que puderam ficar para aprofundar a troca de ideias.


O que falta então para as iniciativas do Global Innoversity começarem de fato a acontecer em São Paulo, com a formação da primeira coalizão de atores interessados? Que haja recursos para viabilizar uma equipe de secretaria e apoio e para desenvolver os primeiros projetos. Vamos torcer então para que a Fundação Getúlio Vargas seja bem sucedida na viabilização do "Inoversidade Global" em São Paulo, com reflexos positivos para todo o país.

E, se não for possível, esperamos que a Fundação encontre logo outra maneira para promover a busca de maior sustentabilidade nos sistemas agroalimentares das metrópoles brasileiras - dos quais dependem muitos milhões de seres humanos que ainda não têm ideia da "pegada ecológica" insustentável dos alimentos que consomem.


Mensagem da Fundação Getúlio Vargas - GVces
De:
Maíra B.Silva / GVces (maira.bombachini@fgv.br
Para: participantes do Colóquio e outros parceiros
Data:
quinta-feira, 29 de agosto de 2013 11:08:51
Assunto: Colóquio sobre Global Innoversity


Prezados,

Bom dia. Em nome do GVces,  gostaria de agradecer a presença de todos no Colóquio sobre o Global Innoversity. Peço desculpas pelo atraso no retorno. Ficamos muito bem impressionados com a adesão e  alto nível do grupo que compareceu. Acreditamos que com este grupo existe grande potencial de formar a coalizão proposta pelos parceiros da Michigan State University, justamente por já estarem envolvidos em projetos e ações relacionadas à agricultura urbana.

Nos últimos dias recebemos um retorno da Michigan State Universty nos informando que infelizmente a Rockfeller Foundation  não poderá fazer o financiamento previsto para que as ações do Global Innoversity se iniciem. No entanto, nós do GVces estamos muito interessados em dar início a uma agenda relacionada com o tema das cidades e acreditamos que a agricultura urbana seria  um tema oportuno. Por isso, decidimos ir avante na proposta e tentar buscar parceiros para financiar ao menos uma secretaria executiva local para poder estruturar algo mais robusto. Acreditamos que até o final do ano podemos ter uma posição mais definitiva e voltaremos a entrar em contato para dar início às atividades da coalizão.

Aproveito a oportunidade para enviar um pequeno questionário para que vocês possam colocar suas impressões sobre o evento e a possível parceria:
http://pt.surveymonkey.com/s/YJCYFJB

Criei uma pasta no Google docs para compartilhar os arquivos das apresentações feitas na ocasião, bem como a relação de nomes e contatos dos participantes e um documento explicando o conceito do Global Innoversity em inglês e também em português, que foi gentilmente traduzido pelo Joaquim Moura, também presente no evento.  A relação dos presentes também está lá. Para acessar os arquivos, basta clicar no link a seguir:
https://drive.google.com/folderview?id=0B8SVAcFCeTysYm5wTHJEYUpGc3M&usp=sharing

Voltaremos a entrar em contato.
Atenciosamente,
Maíra Bombachini Silva